domingo, 26 de junho de 2011

Analisando

De K. O. Müller (1824) a W. Jaeger (1932), a erudição alemã exaltou-a com uma admiração apaixonada: viu nela um efeito do espírito nórdico veiculado pela raça dória e a encarnação de uma política conscientemente racista, guerreira e totalitária, em que se teria, concretizado por antecipação, como num modelo prestigioso, o ideal em que a alma alemã não cessou de nutrir-se, desde a Prússia de Frederico II, de Scharnhorst e Bismarck, até o III Reich nazista. Entre os franceses, Barres foi levado, a exemplo daqueles, a admirar em Esparta "uma prodigiosa coudelaria". A Grécia aparecia-lhe como "um agrupamento de pequenas sociedades para o aprimoramento da raça selênica": "Essa gente, os espartanos, fez com que seu adestramento primasse" (Lê Voyage de Sparte, págs. 199, 239).

Esse entusiasmo tivera precursores antigos: com efeito, conhecemos Esparta através sobretudo da imagem idealizada e romanesca que traçaram dela seus partidários fanáticos e, antes de todos, os que ela teve na sua velha inimiga, Atenas. Por volta do fim do quinto século, e mais ainda ao longo de todo o quarto, à medida que se acentuava e se estabilizava o triunfo das tendências democráticas, os partidários da velha direita, aristocratas ou oligarcas, levados a uma oposição intratável e estéril, verdadeira evasão interna, transferiram novamente para Esparta seu ideal recalcado: o historiador de hoje tem grande dificuldade em discernir os elementos que estiveram na base desta "miragem espartana". 

Uma análise atenta das fontes mostra, com efeito, que esta rudeza espartana não é um legado das origens, mas não cessou de ir exagerando seus rigores. As Gimnopédias eram, no sexto século, ocasião de espetáculos musicais; mais tarde, a nudez prescrita às crianças perdeu seu valor ritual, para dar ocasião a concursos de resistência à insolação sob o terrível sol de verão. O santuário de Ártemis Ortia era, originariamente, também, palco de uma rixa inocente entre dois bandos de crianças disputando queijos empilhados sobre o altar. Na época romana, esta cerimônia converteu-se na prova trágica, em que os rapazes sofrem uma flagelação selvagem e rivalizam em resistência, às vezes até morte, sob os olhos de uma multidão atraída por este espetáculo sádico; e a tal ponto que será necessário construir um teatro hemicíclico, diante do templo, para alojar os turistas vindos de toda parte. E isto em que época?! Mas no Alto Império, quando a paz romana reina de uma à outra extremidade do mundo civilizado, quando um pequeno exército de mercenários basta para conter os bárbaros para além das fronteiras bem protegidas, quando floresce uma civilização inteiramente imbuída de um ideal civil de humanidade, então Esparta adormece, como pequeno município tranqüilo da desarmada província de Acaia!


Um comentário:

  1. Ainda nos dias de hoje vivemos situações bam parecidas, somos discriminadas mesmo fazendo os mesmo trabalhos que os homens ganhamos menos. e ainda somos vistas como sendo inferiores aos homens . Mesmo tendo conquistado nossa independencia financeira .

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